Pêssego.

Pela primeira vez, irei escrever para vocês algo do meu presente. Sempre escrevi tudo o que vivi de forma atemporal para evitar que minha vida pessoal fosse atingida por toda essa onda gigantesca, mas não se enganem, haverá atemporalidade dentro do texto. Esse é meu presente para vocês que sempre leram aqui todas as experiências que eu escolhi escrever para vocês. Sinta-se à vontade...

Fui ao supermercado mais cedo, foi um final de semana difícil, mas ser quem eu sou, exige de mim tanta aparência e força que nunca entendi como cheguei até esse nível do jogo. Elas estavam comigo, se questionando algumas atitudes dele, eu também estive, mas me manter focado para expressar um misero pensamento, parecia uma tarefa tão difícil naquele momento. Já pensou na distância absurda que seria meus pensamentos subconscientes até a queda do pão que estava em minhas mãos, seria estranhamente questionável meu estado, se por acaso eu deixasse-o cair, faltou pouco, mas ainda consegui me manter acordado em meio a tanta gente, por mais difícil que não pareça ser. Eu confesso, me desesperei por dentro e isso foi tão avassalador que estava quase impossível respirar e ter que fingir estar bem, mas meu dever é sempre cuidar delas e eu não posso me dar ao luxo de falhar. Acredite, isso é tão pesado, mas tão pesado. Mas tudo bem, eu estou bem!

Engraçado como o mundo me engloba, me alimenta, me devora. Eu sinto muito que isso está prestes a terminar, será que entende o que estão realmente querendo dizer, caso não seja psicóloga? (Amo psicólogas na mesma intensidade que as detesto ["pensamento intrusivo"]). O jogo ficou realista demais e eu temo o "game over", mesmo diante de tudo isso, eu não resetaria nenhum momento, mas se eu pudesse voltar ao início, com certeza faria algumas coisas diferentes, cuidar de mim e menos dos outros, certamente seria a maior prioridade delas, mas tudo bem, eu estou bem!

Ter sido o autor desse blog cheio de vida nas vivências e erros na transcrição, me ajudou a enxergar muitas transições as quais passei. E por mais íntimo que eu tenha deixado todos vocês de mim, ainda sim, ficou claro que não me conhecem de verdade e toda a força vista até aqui, se esgotou. Mas tudo bem, eu estou bem!

"Já tive mulheres de todas as cores. De várias idades, de muitos amores..." Mas veja bem, toda essa corrida me levou a um único momento, a um único olhar e a maior das despedidas, a qual me corrói como soda cáustica e me joga na lona à nocaute, umas 170 vezes por dia, nem sei mais se é só isso mesmo. Tive que sorrir tantas vezes para tantas pessoas, tive aparecer na tela de tantas pessoas, tive que estar lá socorrendo tantas pessoas. Mas como ajudar alguém, se você não está bem? Mas tudo bem, eu estou bem!

Me mastiga o coração ter que estar tão longe, logo eu que nadei tanto pra perto. Você nas mais profundas intimidades, me levou para alto mar, não importa o quanto eu nadasse. Eu te amo tanto que eu prefiro acreditar que tudo isso tenha sido sem intenções ruins, mas hoje, vendo tudo isso, todo esse pacote de viagens as quais você acumulou milhas e milhas para mim, é difícil acreditar na minha própria esperança. É tão sufocante tentar te fazer feliz que eu me perdi de mim mesmo no meio do caminho, me perdi do próprio caminho e os pés sempre estiveram descalços, minha pele sempre nua, pena que tu não valorizou, por ser tua. Tudo bem, quem compra casaco de pele, não liga para morte do animal. Nesse caso, infelizmente eu fui extinto. Calma, eu estou bem!

Ontem o boxe do banheiro explodiu sobre mim, vários fragmentos estraçalhados sobre a minha pele, me fazendo sangrar a corpo nu. Por alguns instantes me senti aliviado enquanto o chão do banheiro ganhava 50 tons de vermelho e muitas hemácias como se eu tivesse desejado de forma inconsciente que cada pedaço daquela enorme porta de vidro me perfurasse, como se de alguma forma aquilo retirasse de imediato toda pressão e essa merda toda que venho carregando para ver cada um de vocês felizes. Que droga, não? Bem, mas olha pelo lado bom, tá tudo bem, porque eu estou bem.

Há tanto peso aqui, não reconheço mais a gravidade do meu próprio planeta. Foram tantas guerras, por quê me bombardearam? Eu estava ajudando a todos no campo de batalha, parece que gentileza, nem sempre gera gentileza, me desculpa Gandhi, mas você não estava tão certo assim. Sua ideia cretina me ludibriou e eu cai no conto do vigário, com várias facas perfurando o algodão da minha camisa. Eu entendo, os tempos são outros, mas a crueldade sempre existiu nos corações alheios, eu quis acreditar que não. Me viram descontar tudo em tudo o que eu não presava fazer, até entendo certos olhos, pensamentos, julgamentos. Não ligo, conheço a mim mesmo, mesmo estando perdido, mas todo esse derramamento que nem se quer você viu, quando era a única que deveria ver, foi porque eu não podia andar por você, enxergar por você, valorizar por você, ser completamente recíproco por você. Você parece um patógeno que precisa de um hospedeiro específico para parasitar e eu pareço alguém que sempre buscou a doença para viver, mas ela está me matando. Isso é tão doentio, isso é tão perturbador. Que engraçado! Foi com você que eu dei minhas risadas mais vivas e diferente das muitas bocetas que passaram pela minha vida, eu aprendi a amar tão bem, tão lindo. Será que esse é o preço a se pagar? Está alto demais! Mas tudo bem, eu só não estou bem.

...Voltando ao fim do início dessa conversa. Joguei as compras no porta-malas, entrei no carro, mas me bateu uma vontade de gritar a qual eu ainda não reconheço o sentido, logo eu que sou tão bom no jogo de ficar em silêncio. Sei que ninguém deve transferir para o outro a responsabilidade de estar ou ser feliz, ninguém é responsável pelas descargas de felicidade ou de conforto de outra pessoa, mas eu confesso que eu queria você lá. Engoli a seco tudo aquilo que parecia ser insuportável de carregar, mas desde criança, eu sempre fui colocado para trabalhar com pesos maiores do que eu poderia suportar. Engolir à seco, é quase um ritual diário que eu preciso realizar várias vezes ao dia para garantir que os leões não fujam e além de ter que matar um leão por dia, eu ter que caçá-los na savana. Hoje nem é mais só um leão, acho que é o zoológico inteiro e lá vou eu para mais um assassinato em massa de tudo o que eu preciso controlar para que a vida se mantenha estável. Sufocante, não tente fazer o mesmo. Não aconselho isso por falta de competência sua, mas sim porque essa luta constante compete com a vida, o resultado é inevitável, mas nesse caso, diferente de tudo o que pode contribuir para que a morte venha nos beijar, nesse específico caso, estamos antecipando o processo. Também, não me surpreende, tudo o que tocamos morre antes do curso natural da vida, a humanidade é sim o câncer da própria humanidade.

Desculpa Deus por ter sido tão covarde, mas como eu poderia pedir ajuda se sempre que tentei falar, eu parecia mudo?

E tudo o que eu queria era manhã, tarde e noite, meu lindo Pêssego que murchou com o tempo.