Morte súbita, uma ordem de Morning Glory.

 O preço que se paga às vezes é alto demais e em cada neurônio do meu corpo percorria uma grande carga desse preço, como se cada sinapse fosse um inferno pessoal em que cada falta se propagava por cada parte do meu organismo, tomando de conta de toda a minha consciência e inconscientemente me fazendo ser transformado no maior torturado da história da humanidade, aquele que tortura a si mesmo como se sentisse ereção nisso.
 O tempo não é covarde, mas nos educaram a pensar que sim e só depois de tantas soluções que eu nunca encontrei, pude entender que estava perdendo tempo demais justificando e culpando o tempo, o tempo, o tempo, assim como você também faz isso, mas o tempo passa, é uma lei natural totalmente fora da alçada da compreensão humana. Soa quase como se você estivesse nesse exato momento em um enorme deserto e de repente uma grande tempestade de areia te cerca e seu corpo se estende, abrindo os braços e dedos na tentativa de sentir cada grão de areia arremessado pelo vento contra você, então você se vê em uma encruzilhada onde você para de pensar em tudo e se torna seu próprio céu no inferno ou faz de cada grão de areia fragmentos de toda dor, ausência, problemas ainda não solucionados e isso te faz sair desse grande deserto e se torna uma grande bola de neve.

 Eu contei cada segundo para voltar novamente e enquanto rodávamos incansavelmente para chegar lá de novo, o vento que batia na minha cara, fodia comigo porque aquilo me deixava instável, por alguma razão eu me arrepiava e algo incomodava minha garganta, como se eu tivesse engolido um grande pedaço de carne a qual eu não conseguia deglutir e isso entalava em minha glote me deixando cada vez mais angustiado. Eu precisava de paz e não conseguia se quer encontrar a resposta de onde encontrar essa paz. Eram cerca de 20:30pm, certamente estou arrendondando o horário, quando sai da federal e cruzei a estadual, eu senti que eu precisava apenas estar para que pudesse morrer em paz, mas estava, não se trata de morte, se trata da incapacidade de viver a morte em vida. 2019 marcou exatamente o aniversário de uma década que não estávamos reunidos, eu não sei se sorria pelo reencontro ou se me remorria pelos dez anos perdidos desde que foi dilacerado o nosso laço. Ao chegar em casa, eu senti falta de uma delas e me doeu ela não estar presente, é a mesma sensação que estou sentindo agora, algo que sinto falta, uma lacuna não preenchida. Desfiz as malas, jantamos, então eu resolvi entrar em "stand by", talvez aquilo não iria ter o mesmo resultado que imaginei quando sai da Bahia, eu estava errado e minhas expectativas sobre o propósito de tudo, estavam erradas. Eu havia esquecido como me sentia quente e vivo. Na manhã seguinte, algo familiar de muitos anos me fez chorar, fui recebido por uma mulher maravilhosamente linda sobre mim, me acordando como se me esmagasse com seu corpo. Então todas elas estavam reunidas, da flor mais nova à flor mais velha, apesar de que faltava a quarta peça do quebra cabeça, no entanto, era aquilo que eu precisava. Após o café, peguei minha prancha e fui tentar algumas manobras em ondas para saber se estava enferrujado o suficiente para ser engolido, a maré estava baixa, então pude relaxar sob o sol potiguar, naquele instante, eu entendi que eu deveria estar ali, mas sem expectativas, apenas estar, vivendo exatamente tudo o que compunha ela, mas não se tratava mais dela, se tratava de mim, era a minha que precisava ser curada e não sua partida. A saudade é definitivamente uma faca de dois gumes, onde de um lado ela torna tudo belo e significante, mas por outro torna tudo egoísta e doloroso e é exatamente esses dois lados da moeda que nos faz culpar o tempo e os outros porque não conseguimos admitir o peso de nossas escolhas, se para beleza e significância ou para o egoísmo e a dor.
 Aquele lugar é único no meu mundo, algo que me trás o que ninguém e nenhum outro lugar do mundo, me trás, "cura!". Após lavar a alma, entendi que eu precisava fechar uma porta para poder abrir outra e por mais que essa porta a ser fechada, persista em abrir novamente, é importante continuar fechando. E foi nesse exato momento que ela entrou na minha vida e eu pude ter a certeza de que ela poderia sair, mas eu estaria lá quando ela quisesse e precisasse porque é isso o que nos torna compreensíveis, o poder de aceitar que tudo pode ser e estar, porém, tudo pode ir e se transformar, cabe à nós entendermos nossas próprias dores e nossos próprios remédios.

Nesse mar amado
Amargo trás
Dor de ida, vinda à mim.
Nesse mar amargo
Amado trás
Dor de estar, não mais aqui.

Naquele momento, eu não queria foder, eu não queria fumar, eu não queria beber. Eu queria ser ao invés de estar, naquele momento quando tudo o que e faz falta te dilacera e te joga no chão nocauteando você incansavelmente até que o se sente incapaz de conseguir pedir para alguém, naquele momento é quando temos que nos tornar uma verdadeira explosão cósmica, afinal, no universo, nada se perde, tudo se transforma.

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