Ps: Vai tomar no cu!

 "Mano, teu jeito de falar me encanta. Vai tomar no cú!..."
São 02:00am e eu estou exatamente onde eu deveria estar, sentado numa cadeira de balanço ouvindo La vie en rose de Louis Armstrong com um cigarro, sendo para mim, o suficiente, assim como ela já havia me descrito, no entanto, nada disso faz tanto sentido se não soasse da sua boca suja e completamente aleatória. La vie en rose nunca tinha se tornado tanto uma das minhas favoritas quanto agora e meu cigarro nunca tinha feito tanto sentido prazeroso quanto ouvir ela falar. A minha alma velha ainda não completou seu ciclo de sabedoria para me tornar o ser humano que desejo, mas certamente ela se tornou o encaixe perfeito de uma incrível garota de cabelos loiros e gargalhada esquisita. Nossa diferença de idade embalava meu jazz e enquanto o trompete me chicoteava, ela cada vez mais se tornara minha Lolita de 1955 e por mais que eu me afogasse nos embalos de um sábado a noite, me senti devidamente completo.
 Minha solitude também tem feito mais sentido que nos últimos anos e eu adoro como alguém tem me completado tão bem sem que eu se quer tenha a necessidade de estar ao seu lado. Compreendo que me sinto bem comigo mesmo e nessas gavetas das minhas memórias, consigo lembrar do seu sorriso patético e lindo me deixando vivo. Ela é o Ártico e eu a Antártida, dois polos completamente diferentes, mas com uma semelhança inexorável. Ela é a alegria e eu a sórdida tristeza, ela é tudo e eu sou nada, ela é o complemento de todas as minhas fossas pneumáticas que se preenchem de uma forma tão deliciosa quanto uma volta pela baía dos golfinhos de Natal. E pela primeira vez, o teor sexual não se tratou da prática da reprodução, mas no estímulo do divino e na inteira e verdadeira forma prazerosa de estar casado com o bem estar de ter alguém que complete suas lacunas incompreensíveis, insensíveis e dissimuladas. Essa alma jovem dançou um lindo tango com minha idosa alma rabugenta e a cada trago dos nossos corpos sendo embalados pelo ritmo da vida, dávamos sentido às nossas diferenças meramente esculachadas pelo prazer de sermos tão opostos, e assim os dois universos se tornaram apenas um único e invejável nesse vasto multiversos, a colisão perfeita que nos torna um dos espetáculos mais lindos a serem observados por espectadores curiosos e românticos que não perdem a oportunidade de transformar tudo em um roteiro de Hollywood, sabíamos o efeito que estávamos causando um sobre o outro e o medo de não viver isso se tornou maior que o medo de arriscar. Não há nada no mundo que eu goste que eu não possa vê-la e é impossível não lembrar do seu tão maravilhoso, "Vai tomar no cú!".


"You're just too good to be true, can't take my eyes off you."

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