A ultima primavera de Rolds.
Antes que possamos desfrutar dessa maravilhosa leitura desgraçada, eu gostaria que vocês pudessem clicar nesse link, pois eu preparei uma playlist especial com as musicas que eu usei para escrever cada um desses textos à vocês e que fizeram parte de cada momento vivido dentro desse fantástico relato da minha fodida existência e acreditem, vocês não irão querer dizer adeus sem isso, não esqueçam de colocar na ordem aleatória, isso vai ajudar a deixar tudo fluir com mais naturalidade e preencher seus olhos com cada sentimento sobreposto nessa porra.
LINK - DIÁRIO DE 1 PERVERTIDO SOUNDTRACK
A ultima primavera de Rolds.
É com muita tristeza que anuncio hoje, o fim do diário de 1 Pervertido, com entrelinhas. Talvez, algum dia, tudo retorne ao seu ciclo natural, no entanto, é tempo de virar a página, quem sabe outro Pervertido venha a dar continuidade à esse diário com lembranças de todas as suas trepas que na verdade lhes serviram como uma passagem de aprendizado, não só no exercício do prazer, mas em cada passo a ser dado na tentativa frustrada ou não de conquistar seus caminhos, justificar suas escolhas e entender acima de tudo quem é e o que necessita fazer aqui.
Devo dizer que todos esses anos escrevendo para tantas pessoas de tantos lugares do mundo, foram meu maior aprendizado, mas o livro uma hora chega ao fim. Aprendi com o Pervertido que mesmo as lembranças mais sujas podem se tornar canções de ninar, tudo depende do ponto de vista e quando essas lembranças se tornam memórias na boca da mente de quem leu não só com os olhos, mas com a pele, é o momento em que você chega ao seu auge. Eu cheguei ao meu e agora me sinto dirigindo aquele Mustang GT clássico dos clipes de rock dos anos 70' dos meus discos antigos. Não sei se céu ou inferno, mas os dois polos andaram me assustando muito nessa reta final da rodovia que mais parece uma daquelas federais que nunca tem um fim. Talvez eu nunca tenha pedido desculpas pela minha má educação e borsalidade, mas eu quis estar aqui com vocês da maneira como eu estive com todas e comigo mesmo, "nu", há um disparo da loucura e da sanidade que todos nós compartilhamos em vida.
Tudo e absolutamente tudo para mim começou mais cedo do que o imaginável e eu tive que suportar cada mudança drástica dessa trágica trajetória. Aos 8, perdi a infância, aos 12 entrei em colapso, aos 13 me apaixonei, aos 19 tive minha maior fonte de vida, sendo esquartejada pelas minhas mãos, aos 23 renasci condenado a me tornar uma bomba relógio, mas deixando em vida um legado de sangue, aos 26 o relógio chegou ao 00:00:00.
Há muito tempo ela já não está mais aqui, mas foi motivo de tudo isso acontecer e de certa forma a magia deu certo, não que fosse proposital. Eu tinha que lembrar dela de alguma forma, escrever sempre foi um ato de nunca apagar da memória, aprendi a lidar com a falta e a ciência de que tudo seria por minha conta. Levei muito tempo para aceitar que as coisas simplesmente acontecem, e nesse meio tempo, estuprei minha sensibilidade com tudo o que podia me deixar anestesiado, confesso que no princípio, eram apenas anestesias, mas chegou a um momento em que eu passei a gostar de cada forma analgésica da ausência dela e me apaixonei sem qualquer admiração por cada uma. Perdi alguns valores no meio do caminho, mas não estive disposto a voltar para pegar de volta, eu tive que aprender a olhar para o sol e meus olhos ardiam com mais intensidade que o normal, no fim das contas o por do sol era você.
A mãe da minha filha foi uma peça importante durante esse quebra cabeça, ela sempre conheceu meu fardo e eu sempre carreguei um peso muito além do que podia aguentar, mas sempre me disseram que se eu desistisse de algo, certamente, aquele não era eu e esses pés calejados com terra de tantas estradas não se importavam em persistir, mesmo não encontrando qualquer motivo nítido para estar lá.
Perdemos coisas e pessoas constantemente, mas a pior das perdas é quando perdemos à nós mesmos e quando isso acontece, a saída mais comum é se encher de coisas que não te enchem em nada, isso é sem sombra de dúvidas o poço mais confortante e sair dele é quase como nascer novamente. Eu renasci e 2015 foi o ano em que eu precisei começar a engatinhar, parecia que eu estava de joelho sobre grãos de milho e quem nunca teve a sensação de estar sendo torturado por todo o reflexo que a vida tem sobre você? Levei na mochila somente o que eu tinha de mim mesmo e decidi que era hora de partir e deixar ela de lado, mas escrever aqui para vocês imortalizou toda essa maravilha e eu agradeço por ter sido eu o criador de tudo o que vocês tiraram seu tempo para contemplar.
Durante todo esse tempo perdi as contas de quantas pessoas e quantas garrafas deixei ao chão, me tornei tão duro comigo mesmo que não enxergava mais o limite da minha auto tortura, não foi pelo sexo, foi pela minha existência e por tudo o aquilo que eu achava ridículo e insignificante, não por ser ridículo e insignificante, mas porque eu sempre tive muito medo. Todas essas bitucas de cigarro, essas doses de álcool e de gozo vindo de diferentes bocetas e diferentes sorrisos, hoje soam como uma musica tocada no final do outono e o frio do inverno já está começando a arrepiar minha pele em contato com esse banco de couro, parece tudo tão calmo agora. Destilei do meu próprio sangue todas as memórias das vezes em que eu criei o céu no inferno e como uma fumaça que se dissipa lentamente pelo ar, eu fui me dissipando em forma de paraíso e tudo o que eu fui foram fodas e socos. Certamente, durante esse tempo você me amou, me odiou, me desejou, me enojou, durante todo esse tempo você se questionou porque você estava me lendo, mas no fim, entende que eu sou uma parte do que você é, uma leve fração seja das suas felicidades ou das suas decepções, seja com seus pais, filhos, amigos, amores, parceiros(as), com si mesma ou até com o seu papagaio e o fato de eu ser uma partícula do que você é e dizer isso com as palavras que você odeia, te faz ficar tentadoramente furiosa comigo, mas eu posso me acostumar com esse meu sorriso cafajeste no rosto enquanto eu vejo que um dia você verá que eu fui uma das melhores partes de você, não soando como uma sinfonia de Bethoven, mas sim como algo terrível de Tchaikovsky e quando isso acontecer, tocarei seu rosto em forma de brisa, já terei vivido o bastante para chegar à minha metamorfose ambulante.
Experimente uma vez na sua vida beber uma garrafa de uísque ou de vinho acompanhado de um cigarro negro e mentolado, levemente adocicado enquanto sua mente visualiza todo o cenário à sua frente em preto e branco, você vai sentir a sensação de estar sufocado e tudo o que irá querer fazer é correr para bem longe e parar no primeiro lugar a céu aberto para poder respirar, no momento em que ver o céu, enxergará tudo o que você nunca teve tempo de questionar para entender na sua vida e acredite por mais que seja um inferno pessoal, será a maior paz de espírito que poderá ter, às vezes a dor é o preço pela liberdade e a liberdade é o gosto de estar em paz e feliz com si mesmo, sem condições ou julgamentos. A questão é onde você está agora e quem você é?
Eu vivi cada pessoa em minha vida de uma forma única e significante, concreta e firme como um solo fértil onde aprendi a cultivar todos os momentos da minha vida, mesmo que afastando todos por ser duro de mais com cada um e de alguma forma eu sabia que era necessário, no entanto, o meu manejo nesse solo me forneceu uma safra inteira de imortalidade... Na história, na mente e na vida de cada um que cruzei o caminho e me esforcei para foder com seus lares e seus peitos.
Eu fui o desejo da sua mãe, da sua irmã, eu fui desejo da sua melhor amiga, fui desejo de todo mundo que enfiou o dedo no meu cú e me criticou denigrindo quem eu sou pelo que eles achavam que eu era e a cada passo de vitórias e conquistas que eu tive, mas eles nunca tiveram, só alimentavam o ódio e as palavras de injúria sobre mim, enquanto eu morria e ressuscitava todos os dias da minha vida, me mantendo aqui sendo a menina dos seus olhos e olha só o quanto essa menina cresceu, olha onde eu cheguei, no topo do topo do que todos diziam que eu não chegaria, talvez esse foi o meu auge e o que eu vim fazer aqui, reinar em terras de quem não reinava em seus lares, mas diferente dos demais reis eu não governei a trajetória de vida de todos os que circundavam esse lindo reino, apenas segui o fluxo do rio e deixei que eu matasse a vontade livre e espontânea de cada um e no fim essa morte era apenas combustível para querer mais e não saber querer menos.
Somos a tarja preta das restrições da vida compondo o universo de mentes que nunca dormem e enlouquecendo a ordem natural das coisas e no fim seremos definitivamente poeira estelar, talvez por isso buscamos olhar para o céu com tanta intensidade quando sentimentos falta da nossa dor ou quando estamos doloridos pela falta e é isso o que em conjunto com diversos fatores nos torna humanos. Deixo para trás em memória de tudo o que fui e tudo o que foram, deixo minha vida, minhas idéias e tudo o que esse diário provocou além de orgasmos e revoltas, o real produto bruto da minha matéria prima, o Pervertido sempre foi muito além do sexo e a única mente realmente pervertida são todas aquelas que não conseguiram enxergar através desses textos que tudo era muito além de sexo, drogas e rock n roll. Deixo para trás em caborno 14 meus pais, meus irmão, minha filha, minha família, meus amores, meus amigos, minha impressão digital impressa na história de cada um que amei e que cruzei os olhares, deixo para trás minha bagagem e agora meu Mustang GT Clássico está atingindo 1 ano luz da Terra em 2,6 segundos e todo esse motor nervoso parece tão calmo e silencioso que eu não poderia desejar paz melhor que essa, mas eu limpei o retrovisor antes de dar a partida e daqui eu estou vendo todos vocês, daqui eu estou vendo você.
"Eu te usei como ponto focal para que eu não pudesse perder de vista o que eu queria, eu avancei mais do que pensei que poderia, porém senti sua falta mais do que pensei que iria".
Luzes irão me guiar para casa e eu estarei lá brilhando para você.
Comentários
Postar um comentário